"Uma dica é não colocar a pimenta diretamente no prato. Faça o molho separado", revela
Ela atrai consumidores mundo afora por suas cores, sabores e possibilidades de combinação na cozinha. Até a ciência confirma: pimenta vicia. Quando se põe a pimenta na boca, ela passa uma mensagem para o cérebro. É como se as papilas gustativas estivessem em chamas. Então, o corpo libera endorfina, conhecida como o hormônio do prazer. Causa uma sensação de bem-estar e acaba se tornando uma mania. Além disso, tem mais vitamina C que a acerola, previne o envelhecimento e auxilia na perda de peso.
No século 16, um punhado de pimenta-do-reino (que na botânica é conhecida como Piperaceae) custava o mesmo que um escravo. Até que a América foi descoberta e com a ela um segundo gênero de pimenta, o Capsicum. É desse grupo que saem as pimentas mais consumidas no Brasil e no mundo. De acordo com o engenheiro químico Nelusko Linguanotto, sócio da Bombay – Herbs & Spices, uma rede de lojas de pimentas e especiarias, a pimenta mais democrática é a dedo-de-moça.
O empresário é assumidamente apaixonado por pimentas, mas pede moderação. “Uma dica é não colocar a pimenta diretamente no prato. Faça o molho separado e acrescente depois, porque quem não gosta, pode deixar de lado.” Segundo ele, as pimentas mais procuradas passeiam entre extremos: a dedo-de-moça, de ardência leve, e a malagueta, de sabor mais acentuado.
Entrevista>>Nelusko Linguanotto, engenheiro e sócio-proprietário da Bombay
Nelusko Linguanotto é distribuidor de pimentas e as comercializa para o mercado gourmet (Arquivo Pessoal) |
Em relação ao sabor, qual a diferença entre as pimentas secas, os molhos de pimenta e as em conserva?
Quando se fala em pimenta, temos que separar em duas categorias: piperaceae, que é a família da pimenta-do-reino, e a capsicum, das pimentas coloridas. Há uma generalização. A segunda família tem mais consumo e fornece a maioria das pimentas consumidas no Brasil. Elas são encontradas em cápsulas, em conversa, em molho e em pó. Logicamente, a pimenta fresca tem um sabor mais fraco. Já a seca, que tem toda a água retirada, em algumas pitadas se torna algo muito forte. A pimenta conserva é colocada em vinagre e sal, para manter o sabor original no momento de consumo. Nesses três casos, o sabor não muda. Agora, quando se faz o molho, é diferente. Ele agrega sabores, pois é uma soma de vários ingredientes.
Qual a importância histórica da pimenta?
Ela tem vários atributos. A pimenta-do-reino na época do descobrimentos da América tinha um valor muito alto. O fornecimento era controlado pelos árabes e italianos e ela custava o preço de um escravo. Era utilizada para conservar e tirar o mau cheiro dos alimentos. Os povos que habitam em regiões mais quentes consomem mais pimenta. Isso porque a pimenta acelera o metabolismo e diminui a sensação de calor. O corpo fica quente e equilibra a temperatura externa e interna. Acabou tornando-se um hábito em algumas regiões. Ela tem algumas propriedades, além de ardência: sabores, cores para decorar pratos e a parte medicinal. Hoje, começou-se a entender que pimenta é saudável. Antes as pessoas tinham remorso e achavam que elas faziam mal. A pimenta tem mais vitamina C que a acerola, entre outros benefícios. No Brasil, consumimos a pimenta-do-reino muito fina, quase um talco. Se você consumi-la demais, pode gerar uma úlcera e gastrite. Quem tem sensibilidade no estômago e no intestino não pode comer coisas ácidas.
Quais as pimentas mais ardidas que existem?
A pimenta mais ardida, que está no livro dos recordes e praticamente só nós comercializamos se chama trinidad scorpion (custa em média R$ 20 a embalagem com 30g). A ardência dela é algo incomparável. Até aparecer essas pimentas muito fortes, tínhamos uma escala de ardência que ia de zero a dez. Começava pela biquinho, que tinha ardência praticamente 0. A mais potente era a habanero. Passou-se alguns anos e a bhut jolokia veio com uma aderência com o dobro da habanero, 20 em uma escala que até então ia de zero a dez. Mas, há uns dois anos, surgiu a trinidad, que é 40% mais ardida que a bhut, que tem um nível de ardência de 28.
Tem outra escala técnica, a Escala de Scoville, nome de um cientista americano, Wilbur Scoville. Nela, uma nota 10 equivale a 500 mil unidades de Scolville.
Quais os benefícios da pimenta para a saúde?
As propriedades estão ligadas a ardência. Quanto mais ardida, mais benefícios ela terá. Todas fazem bem, não é preciso necessariamente comer a mais forte. Ao longo da vida, as pessoas vão se capacitando a comer pimentas fortes. Além disso, quando se põe a pimenta na boca, ela passa uma mensagem para o cérebro que esta pegando fogo. O corpo libera endorfina, a mesma liberada por um atleta de maratona. Isso causa uma sensação de bem estar e acaba gerando um vício. Um vicio do bem, claro. E cada vez mais vai se comendo pimentas mais fortes. Por isso é importante uma numeração, porque tem pessoas que não estão acostumadas a certas ardência. Isso é uma coisa muito individual. Ao longo da vida, variamos entre a 10 e a 28. As pessoas chegam na loja e querem saber qual é a mais forte, encaram como um desafio. As mais vendidas são as mais fracas ou as mais fortes. Varias pimentas são ligadas a culturas étnicas e usos específicos para cada prato. Nesses casos, não é só questão da ardência e sim do sabor. Na cozinha mexicana se usa a jalapeño, por exemplo, e na peruana usa-se a amarijo.
Quais são os tipos básicos de pimenta que todos precisam ter em casa?
Cada um tem uma sensibilidade. Uma dica é não colocar a pimenta diretamente no prato. Faça o molho separado e acrescente depois, porque quem não gosta, pode deixar de lado. A pimenta dedo-de-moça é bem democrática (ardência entre 6 e 7), não é forte, e tem um gosto ótimo. Mas tem pimentas em formatos bonitos, coloridos e com diferentes sabores.
Que tipos de pratos valorizam o sabor picante?
Em pratos de caça e carnes vermelhas, coloque pimentas mais fortes. Carnes brancas pedem pimentas mais aromáticas do que ardentes. Em uma carne muito suave, você acaba não sentindo o sabor porque a pimenta é muito forte. Mas, é importante saber quem estará comendo. As pimentas fortes devem ser conduzidas de acordo com o público-alvo.
Em qualidade, as pimentas brasileiras são melhores que as importadas?
As pimentas capsicum são fabricadas no Brasil. Quase não existe importada. O Brasil é um grande plantador, esta se tornando um grande consumidor, mas ainda não é um grande exportador. A pimenta calabresa, que é a a dedo-de-moça seca, nós importamos bastante.
Como diminuir a ardência de algumas pimentas e adapta-las a pratos agridoce?
A ardência da pimenta está na pele interna dela, que fica em volta da semente. Se você abrir a pimenta e raspar toda a parte interna, usando só a casca, já se reduz em 85% a sua ardência.
As aromáticas, ou pimenta-de-cheiro e pimenta biquinho, combinam com quais pratos?
A biquinho combina com tudo, inclusive as pessoas colocam como decoração na maioria dos pratos. Outras, como a pimenta de cheiro amarela, é muito utilizada em saladas. Há as aromáticas mais fortes, como a cumari e a pimenta fidalga e de bode, tem bastante ardência.
Em alguns países, como o México e a Índia, a pimenta tem certo protagonismo na cozinha. Como é o consumo aqui no Brasil? Quais as pimentas mais procuradas?
As pimentas não eram muito procuradas porque as pessoas achavam que faziam mal. Quando entenderam que ela é um alimento do bem, passaram a consumir mais. Mas mesmo no Brasil, não procuramos pratos que sejam picantes demais. Esse hábito esta mudando, as pessoas estão procurando molhos e pimentas e de preferencia mais caseiros. As pimentas mais vendidas são a biquinho, a jalapeño, a dedo-de-moça, a malagueta e a de bode. As ardências altas pegam um nicho de mercado de quem gosta de coisas fortes, como as que já citei.
Engenheiro Nelusko Linguanotto dá dicas sobre como usar pimenta
Reviewed by Confraria da Pimenta
on
segunda-feira, outubro 21, 2013
Rating:
Nenhum comentário:
Postar um comentário